PEÇA TEATRAL
Personagens
· O boto (trajes: calça e camisa branca, cinturão e sapatos preto, relógio dourado, chapéu branco com abas grande;
· Caboclas faceiras, cabelos compridos (trajes saias rodadas, tamanco, blusa tomara que caia);
· Mãe, comadre e vizinha;
· Homens valentes, raivosos. (trajes: calça branca sem camisa, descalços).
Cenário
· Um barraco festeiro, onde a comunidade ribeirinha se reúne para festejar a festa de São Raimundo, padroeiro do lugar;
· (pano de fundo: TNT preto e branco; tinta branca e preta);
· Aparelho sonoro; CD de brega, forró, carimbó e Lambada;
· Tora (tronco) feita de isopor;
· Perfume de mutamba;
· Uma imagem de São Raimundo;
· Mesinha, toalha branca, um vasinho com flores;
· Adornos marajoara;
· Jacaré , peixe, arraia.
Narrador
Ao povo rogo atenção,
Ao povo rogo atenção,
A Deus Pai, sabedoria
para contar uma história
cheia de ação e magia, do
Ser mandingueiro e maroto,
Da nossa mitologia.
Esse “causo” aconteceu lá para beira do Rio Ararí,
Numa noite enluarada, há muito tempo atrás,
Contada pela avó da minha bisavó Josefa.
CENA I
Primeiro momento
Aparecerá o barraco todo arrumado com mesa, santo, e a comunidade cabocla terminando de rezar. O som neste momento é ligado e o forró faz a festa esquentar. Pares dançando... Fecha o cenário.
Narrador
O drama começará no instante em que certo rapaz,
Vindo não sei da onde, chegando sempre remando
No pequeno casco, que ancorava no porto;
Vestido de terno branco, cinturão com dois rubis,
Sapatos e cinturão preto, mais o relógio de ouro;
Usando um vistoso chapéu de abas grandes, onde funcionava toda a magia.
Ninguém sabia dançar do jeito que ele dançava... Com uma dama nos braços, parecia que flutuava.
Abre o cenário
O forró tocando e aparecerão vários casais dançando. Por volta da meia noite entra o Boto: rosto sério, passos firmes... O clima dentro da festa com sua entrada, muda. Uma ciranda de olhares sobre o Boto, as moças enfeitiçadas pelo fogo da paixão sorriam como bobas “atirando flechas” de olhares para o boto, que finge nem perceber. Escolhe a cabocla mais bonita e dança a noite inteira. No meio da madrugada quando ninguém esperava, ele desaparece levando consigo a cabocla com quem estava. Ao sair deixa o barracão com um cheiro insuportável de pitiú. Finda a festa e as pessoas vão embora, sem perceber a ausência da cabocla. Fecha o cenário.
CENA II
Segundo momento
Narrador
De manhã bem cedinho, um alvoroço era ouvido: A mãe, madrinha e vizinhas, procuravam a cabocla misteriosamente desaparecida. Sua mãe gritava por seu nome e também pelo da Virgem Maria!
Abre o cenário
A jovem é encontrada em lugar incerto com as roupas todas rasgadas. Meia palermada (bobeada), olhava para o rio acentuadamente... E no ventre carregava nova vida. Passa a mão pela barriga mostrando a gravidez. E um Ti! Ti! Ti! das fofoqueiras, logo se espalha na pequena localidade. Fecha o cenário.
CENA III
Terceiro momento
Narrador
E esse fato virou rotina e após cada festa de santo, uma grávida surgia. A comunidade ribeirinha não mais aguentava tamanha humilhação e resolveu acabar com a proliferação e aumento dos botinhos.
Abre o cenário
“A festa ferve”, as caboclas todas perfumadas, dançavam, mas não tiravam os olhos da porta esperando o Boto. Os homens estavam vestidos à toa e inquietos. Andavam de um lado para outro ansiosos pelo embate. Eis que quando o Boto entra e faz tudo igual sem ao menos perceber a tramoia... De repente sem que “alguém esperasse”, começa uma briga certeira: O dançarino é envolvido no meio do “arranca rabo”, de onde procura fugir. E qual bicho brabo, não se deixa agarrar! Virgem Maria!!! Este “homem é um satanás”, gritavam os presentes! Fecha o cenário.
CENA IV
Quarto momento
Narrador
Os homens já não sabiam o que fazer com o “rapaz misterioso e esguio". Segurá-lo era impossível, pois era liso demais! Foi então que nesse, pega não pega, esmurra e esmurrado, que de repente aconteceu à queda de seu chapéu de abas grandes, que como um véu foi parar no chão. A partir da queda, o encantamento começa a desaparecer como um passe de mágica.
Abre o cenário
No meio da pancadaria desestruturada, seu chapéu que o protegia, veio ao chão rolando pelo terreiro e na frente de todo mundo o encanto é quebrado: Dito “homem” se transforma em uma arraia, o relógio em um caranguejo, o belo par de sapatos em um peixe, o cinturão em uma cobra imensa, e o pequeno casco em um jacaré enorme. Arrastando um medonho susto, o povo arrancou numa incrível carreira da ribanceira acima, para bem longe do rio. Fecha o cenário.
CENA V
Quinto e último momento
Considerações finais do Narrador
Até hoje ninguém sabe o que se passou por ali, após ver o rapaz misterioso dançar, engravidar, se destransformar e mergulhar assustado e humilhado, desaparecendo nas águas do Rio Ararí: Saiu das águas como gente, indo boiar lá na frente, feito um “boto tucuxí”.
A história aqui recontada, não tem pé nem cabeça.
Informa sobre a Lenda do Boto amazônico, uma história narrada
Pelo povo paraense e, toda vez que alguém contá-la,
Outra face mostrará.
Conte, aumente, invente... Vocês têm a liberdade para isso!
Repasse o encanto e a magia do nosso folclore paraense.
Esse é apenas um deles.
Autora: Maria Madalena da Silva Serrão [1]*.
MICASISE - Efetivara apenas algumas alterações textuais na peça teatral acima, objetivando dar mais ênfase. Em 17/08/2010, às: 12h36min.
Cordialmente,
MICASISE - SERRÃO, M. C. S.
[1]* Graduada em Letras pela UFPA e Docente do Estado do Pará.
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Cordialmente,
MICASISE - (SERRÃO, M. C. S.)