27 de setembro de 2024

 

ARTIGO

Autor: SERRÃO, M. C. S. ou MICASISE

Belém-Pará-Brasil, 28/09/2024


Estratégias de Crescimento no Setor de Energia Limpa

Resumo

O setor de energia limpa tem experimentado um crescimento exponencial nos últimos anos, impulsionado pela necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e mitigar as mudanças climáticas. No entanto, o caminho para a expansão sustentável neste setor exige o desenvolvimento de estratégias bem estruturadas que equilibrem a inovação tecnológica, políticas públicas favoráveis e modelos financeiros robustos. Este artigo discute as principais estratégias de crescimento no setor de energia limpa, com base em uma revisão da literatura e estudos de casos recentes. Entre as abordagens discutidas estão a diversificação de fontes de energia, o avanço no armazenamento de energia, a inovação em hidrogênio verde e o uso de mecanismos financeiros como os green bonds. O artigo também destaca a importância de parcerias público-privadas e de uma política regulatória consistente para impulsionar o crescimento sustentável.

Introdução

O crescimento das energias renováveis é vital para enfrentar os desafios globais relacionados às mudanças climáticas e à segurança energética. O setor de energia limpa tem como objetivo substituir fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis por alternativas renováveis, como solar, eólica, biomassa, hidrogênio verde etc. O potencial desse mercado é imenso. Segundo a Bloomberg New Energy Finance (2023), até 2050, o investimento global em energia limpa deverá atingir US$ 10 trilhões, refletindo uma mudança radical na matriz energética mundial.

Entretanto, para sustentar esse crescimento, as empresas de energia limpa precisam adotar estratégias que vão além da simples ampliação de capacidade produtiva. A combinação de inovações tecnológicas, adaptação às políticas públicas e o uso de instrumentos financeiros inovadores são fundamentais para garantir a expansão sustentável e competitiva no longo prazo.

Estratégias de Crescimento

1. Diversificação de Fontes de Energia

Uma das principais estratégias para o crescimento sustentável no setor de energia limpa é a diversificação das fontes de geração. Depender exclusivamente de uma única fonte, como solar ou eólica, pode deixar as empresas vulneráveis a variações climáticas e de mercado. Leite (2022) enfatiza a importância de diversificar as fontes energéticas, destacando que a combinação de solar, eólica e biomassa aumenta a resiliência das operações e oferece maior segurança ao abastecimento.

A International Energy Agency (IEA) também aponta que a diversificação permite que as empresas adaptem suas operações às particularidades regionais. Por exemplo, em regiões com maior incidência de vento, faz sentido investir mais em eólica, enquanto áreas com alta incidência solar deve focar na energia fotovoltaica.

2. Inovação em Armazenamento de Energia

O avanço no armazenamento de energia é outro pilar essencial para o crescimento do setor. O armazenamento eficiente permite que a energia gerada por fontes intermitentes, como solar e eólica, seja utilizada em momentos de alta demanda, melhorando a confiabilidade do fornecimento. Segundo Weiss (2021), as baterias de longa duração e os sistemas de armazenamento baseados em hidrogênio são áreas de inovação crítica que ainda precisam ser exploradas em maior escala.

Investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para aprimorar a capacidade de armazenamento, com foco em baterias de alta eficiência e hidrogênio verde, pode fornecer uma vantagem competitiva significativa. Tecnologias emergentes, como as baterias de estado sólido, têm o potencial de revolucionar o setor, reduzindo custos e ampliando a capacidade de armazenamento.

3. Hidrogênio Verde: O Combustível do Futuro

Cita UFSC (2023) que, a produção do hidrogênio verde, identificado pela sigla H2V, é feita a partir da eletrólise (reação química provocada pela passagem de uma corrente elétrica) da água, sem emissão de gás carbônico, e ele pode ser usado para vários fins, como: gerar energia elétrica; mobilidade elétrica, com veículos elétricos a célula a combustível; e produzir amônia para fabricação de fertilizantes. As fontes de energia para a produção do H2V devem ser limpas e renováveis (solar, eólica, biomassa, marés, entre outras). “Isso significa que [o hidrogênio verde] não esgota recursos não renováveis e não contribui para a degradação ambiental associada à extração e uso de combustíveis fósseis”, destaca o professor Dachamir Hotza, da área de engenharia química e de alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador de uma rede de pesquisa sobre hidrogênio verde formada por 22 acadêmicos do Sul do Brasil, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Rede Sul de Hidrogênio Verde.

O hidrogênio verde é amplamente considerado o "combustível do futuro" por sua versatilidade e pelo fato de poder ser produzido sem emissões de carbono. MICASISE (2024) destaca que o hidrogênio verde tem o potencial de ser uma peça-chave na transição energética, especialmente em setores que são difíceis de descarbonizar, como o transporte pesado e a indústria. A produção de hidrogênio por eletrólise, usando energia renovável, oferece uma alternativa viável e de baixo impacto ambiental. Contudo, existem riscos que precisam ser muito bem analisados e reflexionados, e um desses fatores é a conscientização de seu uso de forma racional e atenciosa, pois o hidrogênio tem alto poder de inflamação e explosão. Prevenir é melhor que remediar. Além disso, a infraestrutura necessária para o transporte e armazenamento do hidrogênio verde ainda não está completamente desenvolvida, representando um desafio para sua ampla implementação. A criação de normativas de segurança rigorosas, juntamente com o desenvolvimento de materiais mais resistentes e sistemas de monitoramento, é essencial para mitigar os riscos associados ao seu manuseio. Também é necessário educar e treinar profissionais para lidar com essas novas tecnologias de forma segura e eficaz, minimizando os perigos potenciais e maximizando os benefícios ambientais dessa fonte de energia. No entanto, o desenvolvimento da infraestrutura de hidrogênio e a redução dos custos de produção ainda são desafios a serem superados. Políticas públicas e incentivos financeiros são necessários para acelerar o crescimento dessa tecnologia.

4. Quais são as principais adaptações que o uso do hidrogênio verde vai exigir?

Segundo o IFSC (2023), a adoção do hidrogênio como combustível e fonte de energia requer adaptações em veículos, indústrias e residências, pois o hidrogênio tem propriedades diferentes das fontes de energia convencionais, conforme explica o professor Dachamir Hotza. “O tempo necessário para essas adaptações pode variar dependendo de vários fatores, como a disponibilidade de tecnologias, investimentos, regulamentações e aceitação pública”, destaca. Para veículos movidos a hidrogênio, é necessário instalar células de combustível, que convertem o hidrogênio em eletricidade para alimentar os motores elétricos, o que requer modificações nos sistemas de propulsão dos veículos. Além disso, o hidrogênio é armazenado em tanques pressurizados ou criogênicos (que fazem armazenamento em baixas temperaturas) nos veículos. “Isso exige o desenvolvimento de sistemas de armazenamento seguros e eficientes”, lembra Dachamir. Por fim, uma rede de locais abastecimento de hidrogênio deve ser construída para reabastecer os veículos, declara IFSC (2023). Na indústria, há necessidade de ajuste dos processos de produção para incorporar o uso de hidrogênio como matéria-prima ou fonte de energia, o que pode envolver a substituição de hidrogênio derivado de combustíveis fósseis pelo hidrogênio verde. “Alguns setores industriais podem exigir equipamentos específicos para utilizar o hidrogênio em vez de outras fontes de energia”, diz Dachamir. Em residências, o hidrogênio pode ser utilizado para aquecimento e geração de eletricidade. “Isso exigiria a instalação de equipamentos compatíveis, como células de combustível residenciais ou sistemas de geração de calor a partir de hidrogênio. As residências precisariam de infraestrutura para armazenar e utilizar o hidrogênio de maneira segura, incluindo sistemas de armazenamento e dispositivos de uso”, avalia IFSC (2023).

5. Parcerias Público-Privadas e Políticas Públicas

O setor de energia limpa depende fortemente de políticas públicas consistentes e de incentivos governamentais. A colaboração entre o setor privado e o governo é fundamental para criar um ambiente regulatório que estimule o investimento. Weiss (2021) argumenta que as parcerias público-privadas (PPPs) têm sido eficazes na construção de infraestrutura de energia limpa e no desenvolvimento de novas tecnologias.

Além disso, subsídios governamentais, créditos fiscais e mecanismos como os green bonds são ferramentas importantes para atrair capital privado. Esses instrumentos oferecem condições financeiras favoráveis para empresas que buscam expandir suas operações e investir em tecnologias limpas.

6. Financiamento Sustentável e Green Bonds

Outro aspecto crucial para o crescimento no setor de energia limpa é o financiamento sustentável. Leite (2022) sugere que o uso de green bonds – títulos de dívida destinados ao financiamento de projetos com impacto ambiental positivo – está se tornando uma das principais formas de captação de recursos. Em 2021, o mercado global de green bonds atingiu a marca de US$ 1 trilhão, demonstrando seu apelo para investidores preocupados com questões ambientais.

Os green bonds são particularmente atraentes porque permitem que as empresas de energia limpa captem capital a taxas de juros mais baixas, reduzindo os custos financeiros de projetos de grande escala, como parques eólicos e solares. Além disso, esses títulos ajudam a atrair investidores socialmente responsáveis, ampliando a base de capital disponível.

Conclusão

As estratégias de crescimento no setor de energia limpa estão profundamente conectadas à inovação tecnológica, à diversificação de fontes, ao desenvolvimento de soluções de armazenamento e ao financiamento sustentável. O avanço em tecnologias como hidrogênio verde e sistemas de baterias pode representar uma revolução no setor, proporcionando maior eficiência e competitividade. Ao mesmo tempo, as empresas precisam estar atentas às políticas públicas e ao desenvolvimento de parcerias que promovam um ambiente propício para o investimento em infraestrutura e P&D.

O crescimento sustentável no setor de energia limpa depende da capacidade das empresas de equilibrar inovações tecnológicas com uma gestão eficiente de recursos e estratégias financeiras inovadoras, como o uso de green bonds. Ao seguir essas direções, o setor estará mais bem preparado para enfrentar os desafios da transição energética e aproveitar as oportunidades que surgem com a mudança global para fontes de energia renováveis.

Referências Bibliográficas

[1] BLOOMBERG NEW ENERGY FINANCE (BNEF). Global Renewable Energy Market Outlook 2023-2050. Nova Iorque, 2023.

[2] LEITE, Rafael. Energia Renovável: Oportunidades e Desafios. São Paulo: Editora Sustentare, 2022.

[3] IFSC. 2023. Já ouviu falar no hidrogênio verde? Saiba o que é e como ele pode ajudar no combate às mudanças climáticas. Recuperado de                   https://www.ifsc.edu.br/web/ifsc-verifica/w/ja-ouviu-falar-no-hidrogenio-verde-saiba-o-que-e-e-como-ele-pode-ajudar-no-combate-as-mudancas climaticas#:~:text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20do%20hidrog%C3%AAnio%20verde,ve%C3%ADculos%20el%C3%A9tricos%20a%20c%C3%A9lula%20a

[4] MICASISE. 2024. Estratégias de Crescimento no Setor de Energia Limpa. Belém-Pará, Brasil, 2024. Recuperado de https://micasisegeneral.blogspot.com/2024/09/artigo-autor-serrao-m.html

[5] WEISS, Jacob. Hydrogen: The Fuel of the Future. Cambridge: Cambridge University Press, 2021.

[6] UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change. Acordo de Paris: Metas e Diretrizes para a Redução das Emissões de Carbono. Paris, 2015.


Autor: SERRÃO, M. C. S. ou MICASISE