ARTIGO
Autor: SERRÃO, M. C. S. ou MICASISE
Belém-Pará-Brasil,
28/09/2024
Estratégias de Crescimento no Setor de Energia Limpa
Resumo
O
setor de energia limpa tem experimentado um crescimento exponencial nos últimos
anos, impulsionado pela necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito
estufa (GEE) e mitigar as mudanças climáticas. No entanto, o caminho para a
expansão sustentável neste setor exige o desenvolvimento de estratégias bem
estruturadas que equilibrem a inovação tecnológica, políticas públicas
favoráveis e modelos financeiros robustos. Este artigo discute as principais
estratégias de crescimento no setor de energia limpa, com base em uma revisão
da literatura e estudos de casos recentes. Entre as abordagens discutidas estão
a diversificação de fontes de energia, o avanço no armazenamento de energia, a
inovação em hidrogênio verde e o uso de mecanismos financeiros como os green
bonds. O artigo também destaca a importância de parcerias público-privadas e de
uma política regulatória consistente para impulsionar o crescimento
sustentável.
Introdução
O
crescimento das energias renováveis é vital para enfrentar os desafios globais
relacionados às mudanças climáticas e à segurança energética. O setor de
energia limpa tem como objetivo substituir fontes de energia baseadas em
combustíveis fósseis por alternativas renováveis, como solar, eólica, biomassa,
hidrogênio verde etc. O potencial desse mercado é imenso. Segundo a Bloomberg
New Energy Finance (2023), até 2050, o investimento global em energia limpa
deverá atingir US$ 10 trilhões, refletindo uma mudança radical na matriz
energética mundial.
Entretanto,
para sustentar esse crescimento, as empresas de energia limpa precisam adotar
estratégias que vão além da simples ampliação de capacidade produtiva. A
combinação de inovações tecnológicas, adaptação às políticas públicas e o uso
de instrumentos financeiros inovadores são fundamentais para garantir a
expansão sustentável e competitiva no longo prazo.
Estratégias
de Crescimento
1.
Diversificação de Fontes de Energia
Uma
das principais estratégias para o crescimento sustentável no setor de energia
limpa é a diversificação das fontes de geração. Depender exclusivamente de uma
única fonte, como solar ou eólica, pode deixar as empresas vulneráveis a
variações climáticas e de mercado. Leite (2022) enfatiza a importância de
diversificar as fontes energéticas, destacando que a combinação de solar,
eólica e biomassa aumenta a resiliência das operações e oferece maior segurança
ao abastecimento.
A
International Energy Agency (IEA) também aponta que a diversificação permite
que as empresas adaptem suas operações às particularidades regionais. Por
exemplo, em regiões com maior incidência de vento, faz sentido investir mais em
eólica, enquanto áreas com alta incidência solar deve focar na energia
fotovoltaica.
2.
Inovação em Armazenamento de Energia
O
avanço no armazenamento de energia é outro pilar essencial para o crescimento
do setor. O armazenamento eficiente permite que a energia gerada por fontes
intermitentes, como solar e eólica, seja utilizada em momentos de alta demanda,
melhorando a confiabilidade do fornecimento. Segundo Weiss (2021), as baterias
de longa duração e os sistemas de armazenamento baseados em hidrogênio são
áreas de inovação crítica que ainda precisam ser exploradas em maior escala.
Investir
em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para aprimorar a capacidade de
armazenamento, com foco em baterias de alta eficiência e hidrogênio verde, pode
fornecer uma vantagem competitiva significativa. Tecnologias emergentes, como
as baterias de estado sólido, têm o potencial de revolucionar o setor,
reduzindo custos e ampliando a capacidade de armazenamento.
3.
Hidrogênio Verde: O Combustível do Futuro
Cita
UFSC (2023) que, a produção do hidrogênio verde, identificado pela sigla H2V, é
feita a partir da eletrólise (reação química provocada pela passagem de uma
corrente elétrica) da água, sem emissão de gás carbônico, e ele pode ser usado
para vários fins, como: gerar energia elétrica; mobilidade elétrica, com
veículos elétricos a célula a combustível; e produzir amônia para fabricação de
fertilizantes. As fontes de energia para a produção do H2V devem ser limpas e
renováveis (solar, eólica, biomassa, marés, entre outras). “Isso significa que
[o hidrogênio verde] não esgota recursos não renováveis e não contribui para a
degradação ambiental associada à extração e uso de combustíveis fósseis”,
destaca o professor Dachamir Hotza, da área de engenharia química e de
alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador de uma
rede de pesquisa sobre hidrogênio verde formada por 22 acadêmicos do Sul do
Brasil, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), a Rede Sul de Hidrogênio Verde.
O
hidrogênio verde é amplamente considerado o "combustível do futuro"
por sua versatilidade e pelo fato de poder ser produzido sem emissões de
carbono. MICASISE (2024) destaca que o hidrogênio verde tem o potencial de ser
uma peça-chave na transição energética, especialmente em setores que são
difíceis de descarbonizar, como o transporte pesado e a indústria. A produção
de hidrogênio por eletrólise, usando energia renovável, oferece uma alternativa
viável e de baixo impacto ambiental. Contudo, existem riscos que precisam ser
muito bem analisados e reflexionados, e um desses fatores é a conscientização
de seu uso de forma racional e atenciosa, pois o hidrogênio tem alto poder de
inflamação e explosão. Prevenir é melhor que remediar. Além disso, a
infraestrutura necessária para o transporte e armazenamento do hidrogênio verde
ainda não está completamente desenvolvida, representando um desafio para sua
ampla implementação. A criação de normativas de segurança rigorosas, juntamente
com o desenvolvimento de materiais mais resistentes e sistemas de
monitoramento, é essencial para mitigar os riscos associados ao seu manuseio.
Também é necessário educar e treinar profissionais para lidar com essas novas
tecnologias de forma segura e eficaz, minimizando os perigos potenciais e
maximizando os benefícios ambientais dessa fonte de energia. No entanto, o
desenvolvimento da infraestrutura de hidrogênio e a redução dos custos de
produção ainda são desafios a serem superados. Políticas públicas e incentivos
financeiros são necessários para acelerar o crescimento dessa tecnologia.
4.
Quais são as principais adaptações que o uso do hidrogênio verde vai exigir?
Segundo
o IFSC (2023), a adoção do hidrogênio como combustível e fonte de energia
requer adaptações em veículos, indústrias e residências, pois o hidrogênio tem
propriedades diferentes das fontes de energia convencionais, conforme explica o
professor Dachamir Hotza. “O tempo necessário para essas adaptações pode variar
dependendo de vários fatores, como a disponibilidade de tecnologias,
investimentos, regulamentações e aceitação pública”, destaca. Para veículos
movidos a hidrogênio, é necessário instalar células de combustível, que
convertem o hidrogênio em eletricidade para alimentar os motores elétricos, o
que requer modificações nos sistemas de propulsão dos veículos. Além disso, o
hidrogênio é armazenado em tanques pressurizados ou criogênicos (que fazem
armazenamento em baixas temperaturas) nos veículos. “Isso exige o
desenvolvimento de sistemas de armazenamento seguros e eficientes”, lembra
Dachamir. Por fim, uma rede de locais abastecimento de hidrogênio deve ser
construída para reabastecer os veículos, declara IFSC (2023). Na indústria, há
necessidade de ajuste dos processos de produção para incorporar o uso de
hidrogênio como matéria-prima ou fonte de energia, o que pode envolver a
substituição de hidrogênio derivado de combustíveis fósseis pelo hidrogênio
verde. “Alguns setores industriais podem exigir equipamentos específicos para
utilizar o hidrogênio em vez de outras fontes de energia”, diz Dachamir. Em
residências, o hidrogênio pode ser utilizado para aquecimento e geração de
eletricidade. “Isso exigiria a instalação de equipamentos compatíveis, como
células de combustível residenciais ou sistemas de geração de calor a partir de
hidrogênio. As residências precisariam de infraestrutura para armazenar e
utilizar o hidrogênio de maneira segura, incluindo sistemas de armazenamento e
dispositivos de uso”, avalia IFSC (2023).
5.
Parcerias Público-Privadas e Políticas Públicas
O
setor de energia limpa depende fortemente de políticas públicas consistentes e
de incentivos governamentais. A colaboração entre o setor privado e o governo é
fundamental para criar um ambiente regulatório que estimule o investimento.
Weiss (2021) argumenta que as parcerias público-privadas (PPPs) têm sido
eficazes na construção de infraestrutura de energia limpa e no desenvolvimento
de novas tecnologias.
Além
disso, subsídios governamentais, créditos fiscais e mecanismos como os green
bonds são ferramentas importantes para atrair capital privado. Esses
instrumentos oferecem condições financeiras favoráveis para empresas que buscam
expandir suas operações e investir em tecnologias limpas.
6.
Financiamento Sustentável e Green Bonds
Outro
aspecto crucial para o crescimento no setor de energia limpa é o financiamento
sustentável. Leite (2022) sugere que o uso de green bonds – títulos de dívida
destinados ao financiamento de projetos com impacto ambiental positivo – está
se tornando uma das principais formas de captação de recursos. Em 2021, o
mercado global de green bonds atingiu a marca de US$ 1 trilhão, demonstrando
seu apelo para investidores preocupados com questões ambientais.
Os
green bonds são particularmente atraentes porque permitem que as empresas de
energia limpa captem capital a taxas de juros mais baixas, reduzindo os custos
financeiros de projetos de grande escala, como parques eólicos e solares. Além
disso, esses títulos ajudam a atrair investidores socialmente responsáveis,
ampliando a base de capital disponível.
Conclusão
As
estratégias de crescimento no setor de energia limpa estão profundamente
conectadas à inovação tecnológica, à diversificação de fontes, ao
desenvolvimento de soluções de armazenamento e ao financiamento sustentável. O
avanço em tecnologias como hidrogênio verde e sistemas de baterias pode
representar uma revolução no setor, proporcionando maior eficiência e
competitividade. Ao mesmo tempo, as empresas precisam estar atentas às
políticas públicas e ao desenvolvimento de parcerias que promovam um ambiente propício
para o investimento em infraestrutura e P&D.
O
crescimento sustentável no setor de energia limpa depende da capacidade das
empresas de equilibrar inovações tecnológicas com uma gestão eficiente de
recursos e estratégias financeiras inovadoras, como o uso de green bonds. Ao
seguir essas direções, o setor estará mais bem preparado para enfrentar os
desafios da transição energética e aproveitar as oportunidades que surgem com a
mudança global para fontes de energia renováveis.
Referências
Bibliográficas
[1]
BLOOMBERG NEW ENERGY FINANCE (BNEF). Global Renewable Energy Market Outlook
2023-2050. Nova Iorque, 2023.
[2]
LEITE, Rafael. Energia Renovável: Oportunidades e Desafios. São Paulo: Editora
Sustentare, 2022.
[3]
IFSC. 2023. Já ouviu falar no hidrogênio verde? Saiba o que é e como ele pode
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climaticas#:~:text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20do%20hidrog%C3%AAnio%20verde,ve%C3%ADculos%20el%C3%A9tricos%20a%20c%C3%A9lula%20a
[4]
MICASISE. 2024. Estratégias de Crescimento no Setor de Energia Limpa. Belém-Pará,
Brasil, 2024. Recuperado de https://micasisegeneral.blogspot.com/2024/09/artigo-autor-serrao-m.html
[5]
WEISS, Jacob. Hydrogen: The Fuel of the Future. Cambridge: Cambridge University
Press, 2021.
[6]
UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change. Acordo de
Paris: Metas e Diretrizes para a Redução das Emissões de Carbono. Paris, 2015.